Uma mensagem do nosso editor para os autores

Uma mensagem do nosso editor para os autores

         Em setembro de 2023, eu lancei oficialmente a Editora Nauta, após meses de preparação e pesquisa. Como autor, eu sabia exatamente o que queria e não queria como prática da minha editora e, acima de tudo, queria fazer um trabalho bem feito de edição e manter um diálogo franco com os escritores. Obviamente, ao iniciar uma nova atividade, somos igualmente inexperientes e idealistas; porém, o dia a dia nos impõe a dura realidade. Dou um exemplo: como eu havia passado anos enviando originais para editoras sem ter nenhuma resposta, decidi que responderia a todos, tendo uma resposta positiva ou negativa. E assim eu fiz – nos primeiros meses. Logo essa tarefa se tornou impossível, devido ao alto número de originais recebidos e a falta de tempo para ler e responder a todos, além do número de ofensas que recebi de autores recusados. Outro exemplo: como todo autor, eu sonhava em ver os meus livros nas livrarias, e como editor, fiz algumas tentativas nesse sentido. Obviamente eu não poderia ter uma larga distribuição em livrarias, pois apenas editoras médias e grandes podem fazê-lo, por uma série de motivos. Eu tentei colocar os livros da Nauta em algumas livrarias, mas logo percebi que não há um interesse delas em pequenas editoras, e por um motivo muito simples: os livros não vendem. Livrarias são estabelecimentos comerciais, que visam o lucro, e obviamente preferem trabalhar com editoras grandes, vendendo livros de autores famosos e best-sellers. Consegui colocar em algumas poucas livrarias, mas logo vi a realidade da situação: os livros não são expostos; eles são colocados em prateleiras e lá permanecem, esquecidos. Caso a livraria venda, ela fica com 50% do valor; caso não venda, ela não tem nenhum prejuízo. Os livros que coloquei nessas poucas livrarias lá estão, e em um ano eu não recebi notícia de nenhum deles. Ou seja, um péssimo negócio para uma pequena editora.

         Mas o ponto principal desta minha mensagem é este: o meu objetivo, ao criar a Nauta, era publicar livros sem custo nenhum para o autor. É preciso esclarecer também que a Nauta é um projeto pessoal meu, que eu toco praticamente sozinho – uma verdadeira “banda de um homem só”: eu faço a revisão do original, produzo a capa, faço a diagramação, envio para a gráfica, coloco o livro no site, faço a divulgação nas redes sociais, mantenho o blog da editora, envio press releases, vou aos Correios, mantenho as planilhas de pagamento etc. Além de todo o trabalho, eu também me encarregava de pagar os custos da Câmara Brasileira do Livro e da gráfica. Esse arranjo funcionou durante alguns meses – até meados deste ano. A partir daí, passei a ter prejuízo atrás de prejuízo. Alguns livros vendem razoavelmente, mas não chegam a cobrir o custo da gráfica; outros não vendem quase nada. A minha dívida foi se acumulando, e a situação se tornou insustentável. Por isso, eu me vi diante de uma escolha difícil: encerrar a editora ou adotar um novo modelo de negócio. Eu optei pela segunda alternativa. A partir de agora, todos os livros terão que vender de 30 a 50 exemplares na pré-venda (dependendo do número de exemplares impressos). Caso esse número não seja atingido, o autor deverá comprar o restante, a preço de capa. Com esse valor, eu pagarei a gráfica. Não vejo outra saída, pelo menos neste momento. Caso as coisas melhorem, no futuro, essa prática deverá ser revista.

         Nos últimos anos, vimos o número de leitores cair (é o que mostram as últimas pesquisas) e o preço do papel subir com excessiva frequência, aumentando o custo da impressão. Além do mais, uma editora que publica autores em início de carreira, como a Nauta, compete diretamente com editoras grandes, que publicam clássicos e autores premiados e consagrados. O nosso nicho encolhe a cada ano. Está cada vez mais fácil publicar, inclusive de forma independente. Mas o autor que deseja publicar ele próprio um livro físico também tem custos (revisão, capa, diagramação, gráfica etc), além de não ter a chancela de uma editora e um site de vendas exclusivo, como é o caso da Nauta.

         Eu pretendo diversificar o catálogo da editora, e publicar também clássicos em domínio público e obras traduzidas. Nós já demos o primeiro passo, eu e meu editor e parceiro Caléu Moraes, com a reedição de Os olhos do diabo, romance de 1986 do autor argentino Jorge Andrade. Também criamos o selo Nauta Acadêmica, que oferece o serviço de publicação de obras acadêmicas. Mas eu pretendo continuar publicando autores novos, porque acredito que há um número enorme de escritores talentosos em todo o Brasil, e eles precisam que alguém lhes abra a primeira porta. As grandes editoras não recebem originais de autores desconhecidos (a última que recebia, a Companhia das Letras, deixou de fazê-lo há dois anos). A tarefa de prospectar novos talentos hoje cabe às pequenas. Para mim, é uma missão. Eu tenho orgulho de ter publicado o primeiro livro de autores talentosos como o piauiense Kleber Lima (Algol), o paraense Leandro Machado (Kaapora) e a paulista Ana B. F. Tiveron (Caro Universo), além da primeira obra de poetas como a mineira Maria Emanuelle Cardoso (Amarelo mostarda), a paulista Marina Della Valle (A mulher que me sonha à noite) e a carioca Daísa Rizzotto Rossetto (Pássaro). Outro projeto bem-sucedido foi a coletânea 20 contos, 20 autores, com escritores também de Norte a Sul do país. Em 2025, eu pretendo fazer o volume dois da coletânea.

         Eu trato cada livro que publico como se fosse meu. Todos os autores sabem que têm um diálogo aberto comigo, e o livro publicado é o resultado de um trabalho conjunto. Obviamente eu ainda tenho muito a aprender, e tenho aprendido nestes últimos 15 meses. Eu não deixarei a Nauta morrer, e farei de tudo para continuar publicando autores novos, mesmo com a diversificação do catálogo. Caso você não concorde com esse modelo de publicação, e não queira investir absolutamente nada no seu livro, eu entendo perfeitamente. Mas, caso você concorde e queira fazer parte do catálogo da Nauta, envie-nos o seu original. Se ele for aceito, ele será publicado com a maior dedicação e carinho.

         Eu acredito na literatura. Amo os livros desde que li o meu primeiro, aos 10 anos (48 anos atrás!), e pedi que minha mãe comprasse um caderninho, para que eu escrevesse a minha primeira história. Obviamente eu não consegui passar das primeiras páginas, porque escrever não é tarefa fácil, e eu não era nenhum gênio precoce. Muitos anos depois, escrevi três romances que foram rejeitados por todas as editoras. Consegui publicar o meu quarto romance (comprando 60 exemplares a preço de capa). A partir daí as coisas começaram a andar. Hoje eu tenho quatro livros publicados e uma editora que lançou 44 títulos em pouco mais de um ano, e cujas edições são elogiadas constantemente por um público de seguidores cada vez maior. Nem se trata de insistir ou desistir; eu simplesmente não vejo razão de existir fora da literatura. E a Editora Nauta vai continuar porque ela já é maior do que eu: é um esforço coletivo, um sonho de muitas pessoas, uma energia concentrada de grande força.

         É isso. Que o ano de 2025 seja melhor para todos nós.

        

Marcelo Nunes
Dezembro de 2024

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