Leia um trecho de "Kaapora"

Leia um trecho de "Kaapora"

– Ei moleca! Ei moleca! Acorda aí.

Ela abre os olhos, a cidade, o sol e as pessoas se foram. No alto, há um telhado de palha velha como o de casa, e por um instante até pensa que retornou para lá. Mas reconhecendo o rosto da mulher, ela percebe que não. É um quarto minúsculo e quente. Está sujo, e há uma cama mais suja ainda desarrumada ao lado. Ela não sabe, mas está em algum lugar do Oiapoque agora. Muito distante do Marajó.

– Escuta aqui. Olha pra mim. Tu vai poder comprar tuas coisas depois, mas vai ter que fazer esse trabalho aqui direitinho. Não quero saber de grito, não quero saber de bater, e não pode morder, senão vai levar soco na boca. Vai fazer tudo o que eles pedirem, porque eles tão pagando. Entendeu? Depois a gente se fala – diz a mulher, levantando e indo até a porta chamar alguém.

– Pode entrar. Já falei com ela. É essa aqui.

Quem atravessa a porta são dois homens esquisitos.

– Cuzinho lá do Marajó. Olha aí – diz a mulher, com um sorriso de satisfação no rosto.

– Lá sei onde fica esse Marajó. Eu quero é uma chupada hoje! Uh! Olha só. Novinha assim? Essa daí morde igual a outra? – pergunta um deles, com a mão na genitália.

– Já falei que não. Se morder pode bater, só não na cara pra não deixar sinal. Quero ver se pelo menos essa aí dura – diz a mulher.

– Fechou minha patroa! Vamo ficar com ela. Depois a gente acerta a parada contigo – diz o outro homem.

A mulher do batom rosado vai embora. A porta velha trisca no ferrolho enferrujado e volta, não segura. O homem então dá um chute violento nela, trancando de vez o raio de sol para fora.

 

Compre o livro

 Receba Novidades