Ficha técnica:
Título: Imago
Autora: Fernanda Spinelli
Gênero: Poesia
Capa: Marcelo Nunes
Ano de publicação: 2023
Edição: 1ª
Dimensões: 14 x 21 cm
Acabamento: brochura
Número de páginas: 72
ISBN: 978-65-980613-2-6
Sobre a autora:
Fernanda Spinelli nasceu em Santos, SP. É poeta, tradutora, psicóloga e professora. É autora do livro Síntese de Passageiro (Editora Delicatta, 2020) e da antologia Paninos Eternos (edição da autora, 2022).
Sobre a obra:
"Eu conheci a poesia de Fernanda Spinelli em seu livro de estreia, o excelente Síntese de passageiro. Estava ali uma poeta madura, uma alma velha em um corpo jovem – e todos sabemos que o poema não começa no momento em que se deita a pena, mas antes, muito antes (em vidas passadas, talvez, ou mesmo no éon).
Ela volta agora com este Imago, e vemos uma autora um pouco diferente, que abraçou os versos livres, mas que manteve uma coisa igual: a sensibilidade metafísica - o âmago da poesia, podemos dizer. Quando ela diz que “só dormimos enquanto vivemos”, ela ecoa a tanatologia dos filósofos: para Sócrates e Schopenhauer, o homem é um autômato, não tem consciência de si, e só a terá ao morrer; para Montaigne, é preciso pensar na morte o tempo todo; para Kant e Heidegger, só tendo consciência da própria finitude o homem tem a chance de despertar.
A poesia de Fernanda possui também uma cosmogonia, pois ao falar do aqui e do agora, ela também descortina o que há acima e além. Ela mira o humano e fala de estrelas, ou contempla as estrelas e define o humano. Ezra Pound dizia que a poesia nem literatura é – mas o que ela seria? Ler os poemas de Fernanda Spinelli é mergulhar nesse mistério e nesse deslumbramento, ao mesmo tempo espelho e firmamento."
Marcelo Nunes
"Há uma coisa íntima na língua portuguesa que a torna bela, o perfume da flor da fala, essa última flor do Lácio que flora os bosques e aos pássaros alegram o canto em seu latim e assim que o poeta esteja por encontrar o que deseja: fazer da língua o seu ofício (que às vezes é sal ou salário), forjar o verbo. Não são palavras encobertas, desvairadas de sentido, que a todo momento mudam no tempo. São palavras que nos fiam entendimento, soam bem na boca porque se movem na razão.
Não há que se ler uma obra vasta para saber quem tem o dom da poesia. Fernanda Spinelli sabe a artesania do verso. Sua poesia é feita à imagem e semelhança de palavras que se não são raras, lhe são caras: amor e morte. Uma poesia filiada à tradição. Ecos de Al Berto, brincadeiras de Bandeira ("demissionária de atribuições românticas").
IMAGO é o livro de poesia de estreia da editora Nauta e melhor escolha não haveria na poesia brasileira contemporânea.
O livro é um caudaloso rio versos que ecoa "os sons de todas as coisas", em ritmo circadiano. Fotoperíodos do florescimento dos dias, luz sobre o que a autora vê e nomeia. E assim, dá vida mesmo a coisas que não têm vida.
Há algo de místico neste livro, no uso das imagens poéticas, como se ressonasse o "Epistolário espiritual para todos os estados", de Juan de Ávila.
e, no céu da abundância, achei a miséria e, nela, a brecha,
a fissura do caule elementar —
em cada talo, um cavalo em elevação
flertará com deus, até ultrapassar a flecha Moira,
e enfim, à toa, ouvirá os sons de todas as coisas.
Há algo de mágico neste livro que fala de amor, uma linguagem de pássaros (chant dels aucèls) que cantam a canção cotidiana, expondo a dolorosa experiência do sentimento como escritura:
queres tudo e algo mais
tantos algos que salgas
te encher a cada d’água
e logo — minha alga
de estimação
mão abrir não
fim fechar sim
mais e mais sais
a gula mora ao lago
Há uma certa linhagem na poesia de Fernanda Spinelli. Ecos da "alma livre que se une ao incriado" de Marguerite Porete (Le miroir des âmes simples et anéanties). Ecos de Yourcenar, memória e duração. Ecos de Duras. Três margaridas que, como Fernanda, enxergaram no labirinto pessoal as referências para indagar sobre o fracasso do conhecimento quando interroga sobre o que é rigorosamente verdadeiro ou falso, sonho e realidade. Só a poesia tem o olhar pra ver o que não tem medida. Descascar palavras, arrancar-lhes sentidos e expô-las em versos é uma forma de amor, sobretudo quando o que se escreve é inspirado por alguém ou prometido a alguém.
Imago, último estágio da metamorfose, é a transformação da vida em poesia, única salvaguarda contra o falso e o verdadeiro, contra a mentira e a verdade, a estupidez e a inteligência, o fim dos julgamentos, a derradeira tentativa que poetas encontram para emergir nas entranhas do que não se sabe. E Fernanda emerge do seu caudaloso rio de imagens, para nos dizer que as palavras constelam a noite das coisas. E nunca sabem quem as espera.
Vem, vem a mim, criação.
Não escondas onde jazes e o que trazes,
pois te conheço por dentro: sou o que és, és onde estou.
Vislumbro o teu único caminho (...)"
Vanderley Mendonça