Ficha técnica:
Título: Falta
Autora: Isa Freyer
Gênero: Contos
Capa: Marcelo Nunes
Ano de lançamento: 2023
Edição: 1ª
Número de páginas: 98
Dimensões: 14 x 21 cm
Acabamento: brochura
ISBN: 978-65-980613-6-4
Sobre a autora:
Isa Freyer é um pseudônimo.
O que se disse sobre o livro:
"Falta. O que os dicionários nos falam sobre essa palavra é que ela, além de amarga ao paladar, é multifacetada. Ela pode falar da ausência, da insuficiência, da privação, da imperfeição…
'Quando criança, naquela árvore, tinha um balanço feito de corda com um pedaço de pau. Ia toda tarde se balançar. A cada voo, era um personagem diferente: a mulher maravilha no jato invisível, a top model da novela, o astronauta que pisou na lua. Nunca tive nem um burro, quanto mais um jato ou foguete! E igual Malu Made só tinha as sobrancelha! Ficou ali, rindo das bobagens, saudade de quando era menina, até cair no sono.'
Mas também pode tomar ares mais maliciosos, como o engano, a transgressão, a violação; enfim, até a morte.
'Virou rotina. Viciei no prazer, acostumei-me a apanhar. O que eu podia fazer? Eu amo ele e nunca tive sorte com os homens. Como podem pensar que o matei?'
A coletânea Falta desenha cada uma dessas possibilidades. Nela, a autora nos permite testemunhar uma das experiências mais intrínsecas do humano. A falta é o que há de mais presente, moldamos toda nossa existência em volta dela. E, mesmo que não queiramos, muitas das nossas escolhas acabam por alegar alguma falta escondida por trás do que buscamos – ou do que fugimos.
Em cada um dos contos dessa coletânea sentimos onde estão esses espaços vazios, implorando por completude. Vemos desde uma inocente travessura de criança tentando alcançar seu desejo por uma manga, até a dormência a que nos submetemos diariamente na tentativa de suportarmos a angústia do vazio.
'E enquanto o pião gira, sigo: despertador levanta banho café lancheira mochila escola trânsito trabalho abre o caixa fala um outro dez quinze minutos de almoço brócolis tomate proteína sem glúten. Tem sorte, é magra. Rio toda vez que olho meu prato e lembro dessa frase repetida, sorte = brócolis. Os pedidos, despachar. Enter.'
Mas só nos deixamos atravessar pelo Outro justamente porque temos esse espaço em negativo. Entramos pelo vazio do outro e, ele, entra pelo nosso. A parte que falta encontra o Outro a meio caminho.
Em anos diferentes, encontros decisivos, cenários que podem caber em qualquer lacuna. O ser humano é mostrado em cada um dos personagens por suas sutilezas belas e melancólicas. E que tango esses personagens dançam! Cada situação denuncia a natureza opositiva da falta. Essa sensação de que algo não está onde deveria, um buraco em relação aos seus desejos.
A autora escreve seu livro de estreia, mas com alma de quem muito já testemunhou do ser humano. Destila os episódios mais prosaicos da vida como quem destila um bom brandy 15 anos."
Francine Romano
Professora de escrita, mestra em literatura.
"Os catorze contos que compõem Falta condensam esse significante em sua forma nítida e invisível. Dualidade prévia da existência geral, o existente e o não existente, a inércia vazia e a ocupação, falta e suprimento; os possíveis aspectos da falta na vida humana são contemplados com as histórias apresentadas por Isa Freyer através de uma prosa comedida ao mesmo tempo que segura do retrato a qual pretende. Não à toa que a maioria dos contos deste livro traz mulheres como personagem central. Histórica e cientificamente a mulher vem sendo colocada no lugar da falta, ou seja, um sujeito legado a um local de preenchimento, de vazio, de insuficiência, portanto necessitada de um auxílio, de um aporte, de uma existência. E esse espaço enquanto um local de compartilhamento é devidamente ilustrado pela repetição do nome Mariana (e variações: Ana, Mari, etc). Que seja a mesma personagem ou que sejam mulheres que compartilhem o mesmo nome, a consonância não para por aí. O legado da posição social da falta é uma presença imune em cada um dos textos.
Trabalhados ao longo de anos, os contos de Falta nos apresentam uma escritora madura e completamente absorvida pela força de representação da literatura. Freyer deu voz às vidas de mulheres universais, personagens e sentimentos emaranhados no jugo da lógica patriarcal e masculina, não à guisa de solução ou simplória crítica, mas como uma clara tentativa de inserir histórias poderosas num local vazio do cânone ocidental: onde falta a mulher universal."
Andreas Chamorro
“Os contos do livro Falta são fragmentos da realidade transportados para as páginas. Potente, honesto e repleto de imagens que colam na cabeça e nos acompanham muito tempo após a leitura.
Todos os contos são também bonitos em suas possibilidades. Uma linguagem que beira o poético e que mostra sensibilidade ao tratar temas tão difíceis.
Falta é um livro para ler e reler. Para guardar no dentro. Para refletir sobre sonhos, relações familiares, sobre amor e a falta dele. É um livro que põe a gente prestes ao choro.
Saí da leitura querendo mais. Muito mais. Valeu cada palavra.”
Mell Renault
Trecho do livro:
"Apoiou o caibro nos ombros. Num impulso, equilibrou os latões d’água. Caminhou como numa corda bamba, cada passo um grande ato. Sentia os pingos molharem suas pernas finas, lamentava cada gota perdida. O sol, às oito, já queimava sua pele trincada. Apesar dos seus trinta e três anos, seu rosto era como o leito do rio nos anos de seca. Num faz mal, apesar de num tê boniteza, homi nunca me faltou! Macho gosta mesmo de xoxota. Tenho uma. Além de um punhado de safadeza. Ria consigo mesma, distraindo-se do caminho."
(Do conto "Fia")